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KATIE: projeto incentiva a participação de mulheres em áreas de estudos dominadas por homens

Criado por mulheres e para mulheres, a iniciativa pretende aumentar o número de formandas na área de ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

Por Erika Basílio

Fundado em 2019, no IC – Instituto de Computação – da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o projeto Katie – cujo nome presta homenagem a Katie Bouman, engenheira que capturou a primeira imagem de um buraco negro – tem como principal objetivo apoiar mulheres interessadas nas áreas STEM (sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática), tanto aquelas que já estão na universidade quanto aquelas que ainda irão ingressar e possuem receios em relação a uma área historicamente dominada por homens.

A ideia surgiu após a percepção de que os cursos de computação tinham poucas mulheres, que mal se conheciam ou mantinham contato devido a várias adversidades, como períodos de estudos diferentes, por exemplo.

Com a intenção de promover essa união, foi realizado o primeiro encontro, um evento chamado ‘Who Run This Code? Girls’, fazendo referência à música ‘Who Run The World? Girls’, da cantora estadunidense Beyoncé.

Primeiro encontro do que viria a ser o projeto Katie. Foto: reprodução/arquivo pessoal

Após o bem-sucedido encontro, uma comissão composta por seis mulheres foi formada, dando origem ao projeto Katie, que mantém suas características até hoje.

Uma das idealizadoras da iniciativa, é a engenheira da computação Luana Ferreira, de 26 anos. No seu primeiro período na faculdade, a desproporção entre homens e mulheres era bastante perceptível: apenas três meninas faziam parte da turma. No entanto, ao longo do tempo, duas delas desistiram, deixando Luana sozinha. Se não fosse pela criação do Katie, Luana afirma que poderia ter desistido em algum momento, trancado o curso e atrasado seu desenvolvimento, devido à falta de apoio, ansiedade e outras questões. “Quando tive a oportunidade de fundar o Katie, isso me deu muita força para continuar no curso. Além disso, tivemos também muitos relatos de meninas que encontraram apoio nele”, relata.

Luana Ferreira é engenheira da computação e uma das idealizadoras do projeto. Foto: reprodução/arquivo pessoal

Desde então, as mulheres do Katie realizaram inúmeros projetos, workshops, cursos voltados à área, encontros, além de pesquisas e artigos, como a I Semana da Computação na UFAL e uma pesquisa aprovada e apresentada no I Simpósio Brasileiro de Mulheres em STEM (I SMSTEM).

I Simpósio Brasileiro de Mulheres em STEM (I SMSTEM). Foto: reprodução Instagram

Com o tempo, o Katie ganhou mais espaço, não apenas no Instituto de Computação, nem apenas no Campus A.C. Simões, mas também em várias partes de Alagoas, como Arapiraca e São Miguel dos Campos.

A partir de um workshop, uma aluna de STEM de outra instituição viu uma oportunidade de criar um grupo seguindo as mesmas ideias do Katie, já que as estudantes passavam por situações semelhantes às do projeto. Dessa forma, as discentes da UFAL levaram o projeto para a outra universidade, onde ofereceram apoio e explicaram o funcionamento do mesmo.

Meninas do Katie foram convidadas para falar sobre o projeto em outra instituição de ensino. Foto: reprodução Instagram

“Se engana quem pensa que não há mais desvantagens ou dificuldades de gênero dentro de uma universidade. Ainda há casos em que as mulheres estão estudando e um homem chega tentando explicar como fazer. Ensinamos as mulheres a se imporem e que podemos ser tão competentes quanto eles. Não é que não saibamos, nos sentíamos intimidadas porque éramos minoria, observa Luana.

Mas ela garante que isso está mudando e que esse tipo de comportamento vindo dos homens do curso não afeta quem participa do projeto. “Esse problema já diminuiu bastante. Os meninos já sabem que não podem mexer com o Katie, pois somos bem conhecidas”.

Noemy Roberta, de 23 anos, cursa o 6º período de Ciência da Computação na UFAL, no Campus Arapiraca, e é uma das participantes do Katie. Ela se diz muito feliz em fazer parte de um projeto tão importante como esse, contribuindo para o progresso da inclusão das mulheres na área da tecnologia.

“O papel do Katie nesse contexto tem consequências extraordinárias, de modo que pouco conseguimos mensurar na prática o diferencial que ele exerce na vida de cada mulher tocada por ele. Desde a universidade, e observando os depoimentos das participantes em atividades como o ‘Who Run The Code? Girls!’. Temos diversos depoimentos das calouras sobre o quanto se sentem bem por ter referência de mulheres como nós que já estão trabalhando na área e têm jornadas parecidas, que estudam e conversam sobre; como o incentivo auxilia na inspiração delas para continuar; e, principalmente, como estar na comunidade do Katie proporciona esse bem-estar de aceitação e acolhimento. Esses depoimentos são pequenos exemplos de como o Katie faz a diferença. Para nós, enquanto diretoras, a inspiração é mútua, pois colaboramos com um projeto que tem um propósito social muito forte”, conta Noemy.

Noemy Roberta, estudante de computação da UFAL campus Arapiraca e atual diretora de RH do Katie. Foto: reprodução/arquivo pessoal

Ela conheceu o projeto através de uma professora em seu campus e hoje atua como Diretora na área de recursos humanos do projeto, junto com mais 7 mulheres. “O Katie se posiciona como um projeto que tem grandes forças de mulheres que querem fazer acontecer, como é o caso da atual diretoria. Já vi relatos de pessoas que divulgaram o projeto mesmo sem nem nos conhecer, e isso já é um exemplo do impacto social que ele tem: um projeto que visa dar palco às mulheres que se desafiaram a serem diferentes apesar das circunstâncias”, explica.

Para ela, fazer parte deste grupo e estudar em uma área em que os homens estão em maioria é muito importante. “A experiência de participar no projeto Katie é provar a quebra de tabus e do meu poder pessoal diariamente. Existem barreiras que nunca quebrei antes e jornadas que nunca trilhei, e que, sem o Katie, não teria o aprendizado que tenho hoje, pois enquanto faço pelas pessoas, também faço por mim. Hoje sei que luto para que o anonimato da mulher na área da tecnologia seja dissipado, buscando ser uma inspiração para outras mulheres assim como as que vieram antes de mim me proporcionaram/proporcionam. Quando penso que estou só, consigo perceber que existem pessoas como Ester de Lima, uma das fundadoras do projeto, que não medem esforços para fazer história”.

Atualmente, a maior dificuldade enfrentada pelas meninas é manter o projeto, já que ele utiliza recursos próprios, desde a realização e transporte das colaboradoras até o evento, até outras necessidades, como a produção de kits em eventos presenciais.

No início, era um projeto de extensão, com apoio financeiro da UFAL e da Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti), além da venda de produtos próprios. O Katie também já esteve vinculado ao LaCCAN – Laboratório de Computação Científica e Análise Numérica.

Para o futuro, Luana espera que o número de mulheres seja equiparado ao dos homens no curso.

“A longo prazo, eu acho que o projeto Katie nem precisaria existir, pois já teríamos atingido o objetivo; esse seria o meu desejo. Mas como sei que isso é meio utópico, eu queria que as meninas considerassem a área de computação, e que, se for escolher outras áreas, que seja mesmo por afinidade e não por medo ou algo do tipo. Até porque a tecnologia é a área do futuro”, finaliza a engenheira.

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