Educação e empreendedorismo: brincadeira de criança vira negócio e contribui para desenvolvimento pedagógico infantil
Professora de matemática procurou pedagogas para entender a necessidade das crianças e abriu seu próprio negócio de brinquedos pedagógicos.
Texto escrito por Erika Basílio e Pedro Alencar
Em um estande aberto durante a 3ª edição da Feira Itinerante da Economia Solidária, realizada no Marco dos Corais, na orla da capital alagoana, brinquedos feitos à mão ficam expostos para quem tiver interesse. São brinquedos de vários tipos e cada um com sua funcionalidade, mas todos com um único objetivo: a educação.
Quem toma conta do local e é a idealizadora desse empreendimento, é Marília Rocha de Oliveira Silva, professora de matemática e artesã, que encontrou no mercado uma necessidade de brinquedos voltados para a educação, além de ser uma ótima oportunidade de colocar seu talento em artesanato em prática.
O EntreSonhar – Brinquedos Pedagógicos, surgiu em 2021, porém, já estava nascendo muito antes, mesmo não sendo uma ideia clara. “Antes disso eu já fazia vários tipos de artesanato, só que eu não tinha um foco, fazia de tudo um pouco. O cliente aparecia pedindo uma peça, aí eu ia e fazia”, conta Marília.
Assim como para muitos brasileiros, a pandemia trouxe consigo um tempo para se dedicar a outros trabalhos e ao surgimento de novas ideias para o mercado empreendedor. “Em 2021, comecei a fazer oficinas online e então comecei a ter contato com os brinquedos. Foi aí que eu comecei a fazer brinquedos educativos”, explica a artesã.
De acordo com a Agência Brasil, o número de empreendedores cresceu durante a pandemia de Covid-19. Nos nove primeiros meses de 2020, o número de microempreendedores individuais (MEIs) no país cresceu 14,8%, em comparação com o mesmo período em 2019, chegando a 10,9 milhões de registros. Em 2023, 65,6% dos empreendimentos eram liderados por homens e 34,4% por mulheres em todo território nacional, de acordo com o Sebrae.
Em Alagoas, existem cerca de 83.442 empreendimentos registrados por mulheres até março de 2024, representando cerca de 30,4% do total, e embora a população alagoana seja em maioria feminina (51%), este é um número significativo de mulheres no comando, sendo sócias, administradoras, representantes e/ou diretoras de microempresa individual (MEI), microempresa (MEs), empresas de pequeno porte (EPPs) e negócios considerados sem porte, segundo estudo realizado pela Junta Comercial do Estado de Alagoas – Juceal. Marília, é uma delas.
Mas é preciso saber que há um estudo todo por trás, onde pessoas que entendem como funciona a importância de brinquedos no aprendizado trabalham. “A minha formação é em matemática, licenciatura, então tem uma parte da pedagogia. Mas a maioria dos cursos que eu faço, dos brinquedos, são realizados por artesãs que são pedagogas, a maioria são professoras e elas têm o embasamento de qual brinquedo é adequado para qual idade, tudo isso”, explica a empreendedora.
“Pensamos em qual habilidade aquele brinquedo vai desenvolver. Se for a coordenação motora, servirão os brinquedos que tenham a ver com círculos ou com fita, por exemplo. Vou pensando nos elementos que eu posso usar para trabalhar, desenvolver uma determinada habilidade”, continua Marília.
Apesar de ser requisitada em feiras e exposições, ela diz que ainda há uma dificuldade em reconhecerem a importância dos brinquedos, principalmente quem não é da área pedagoga. “Um desafio é o pessoal não reconhecer a importância dos brinquedos. Acho que, olha assim, não entende o que é. Quão importante é o brinquedo para o desenvolvimento da criança. Não só as pequenininhas, mas as maiores também”.
Ainda assim, há um lado que a professora, artesã e empreendedora acha gratificante. “Quando as clientes compram, quem entende, né? Compram e postam no Instagram a criança usando e sabe qual a importância. Psicólogas já me compraram os brinquedos e me postaram (no Instagram). E através delas, outras psicólogas já começaram a me procurar e eu fico muito feliz. Muito feliz, porque é um reconhecimento, né? Que eu estou fazendo o que eu gosto e eu me sinto muito realizada”.
Ajudam no desenvolvimento
De acordo com a Pedagoga Wanessa Melo, os brinquedos pedagógicos são uma forma de introduzir a criança a habilidades necessárias. “Nós humanos aprendemos com o outro de forma coletiva. Somos seres sociais constituídos a partir do meio cultural. É a partir do brincar que as crianças desenvolvem-se e aprendem as regras sociais. As brincadeiras lúdicas, os jogos ajudam a desenvolver a fala e a compreensão do código linguístico. Jogos que trabalham o raciocínio, o uso de letras e números favorecem o desenvolvimento de padrões mentais que permitem a decodificação de códigos, que é a base do desenvolvimento da linguagem”, explica.
A fonoaudióloga infantil Juliane Medeiros, complementa que os brinquedos pedagógicos possuem um papel fundamental no desenvolvimento da criança, porém, é importante os pais e professores prestarem atenção nas suas funções. “Acredito que nem todo recurso seja pedagógico, mas pode-se ensinar através de estímulos diversificados. Basta eles serem adequados à situação e à criança”.
Os brinquedos são indicados, inclusive, para crianças atípicas, sempre com orientação de um especialista. “Podem ser utilizados recursos com sequências lógicas; histórias infantis; fantoches. Depende muito do contexto e do que a criança apresenta de habilidades. Os recursos são escolhidos de acordo com o que a criança consegue realizar naquele momento. Por isso há de se considerar uma avaliação prévia, antes de qualquer orientação. Em se tratando de crianças com desenvolvimento atípico, é uma via de mão dupla, quando a criança ainda não fala não é indicado utilizar recursos com foco na alfabetização e letramento, explica a profissional.
“Os recursos pedagógicos podem estimular a fala se bem direcionados e com mediação de um adulto, sendo necessário avaliar qual o nível do brincar a criança se encontra para que tal brinquedo seja adotado durante a intervenção. Além disso, é preciso olhar a idade da criança e em que estágio de desenvolvimento está para assim buscar brinquedos compatíveis com a idade e preferências da criança também”, complementa a fonoaudióloga.
Futuro
Marília por fim, expressa o que espera do seu empreendimento nos próximos anos: “Eu gostaria que mais gente entendesse a funcionalidade desses brinquedos para poder ter mais, não só mais vendas, mas também para desenvolver as crianças. Isso, que mais pessoas possam entender a importância do brinquedo educativo no desenvolvimento certo, nas crianças na idade certa. E o quanto isso pode estimulá-las a se desenvolverem”.
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