LOODUS: aplicativo contribui para o ensino de Libras a crianças surdas de forma gamificada e interativa
A proposta é que crianças surdas de pais ouvintes (não surdos) tenham contato cada vez mais cedo com a linguagem de sinais
Por: Erika Basílio e Pedro Alencar
Desenvolvido por alunos de Ciências da Computação e Letras da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) com a ajuda e supervisão do Prof. Dr. Fábio Coutinho, o Loodus é um aplicativo que visa auxiliar no ensino de Libras a crianças surdas ou com algum tipo de dificuldade na fala ou audição.
A ideia inicial surgiu de uma dissertação de mestrado orientada pelo professor. Durante a pesquisa, foi identificado um problema relacionado ao atraso linguístico e como isso impacta a vida dos surdos, especialmente filhos de pais ouvintes. A criança surda, quando tem pais não surdos, demora a ter contato com a língua de sinais – Libras, aqui no Brasil.
Dado esse problema, chamado de descompasso linguístico, uma vez que uma criança ouvinte recebe estímulos desde a barriga da mãe, enquanto a criança surda nasce e a família ainda precisa encontrar e aceitar o diagnóstico, o objetivo do aplicativo é auxiliar na aquisição da língua de sinais.
“Esse fenômeno acaba sendo impactante até no desenvolvimento cognitivo e social dessa parcela da nossa sociedade. A gente encontra esse problema e vê também uma escassez de ferramentas que poderiam auxiliar nesse processo”, explica Coutinho.
No Brasil, há cerca de dez milhões de pessoas surdas, de acordo com o levantamento do IBGE de 2022. Segundo os últimos dados do Ministério da Educação, dos 47,3 milhões de alunos da educação básica em todo o país, 61.594 possuem alguma deficiência relacionada à surdez.
Já em Alagoas, a Secretária Municipal de Educação (SEMED), informou que há um total de 67 alunos surdos matriculados. Destes, 10 estão na educação infantil, 32 no ensino fundamental, 12 no fundamental II e 13 na Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Nas escolas do estado, a Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), informou que entre todos os seus alunos, 193 possuem algum tipo de deficiência auditiva.
Ao ser questionado sobre o motivo de trabalhar com esse tema, ele destaca:
“Libras é uma língua legalmente reconhecida há mais de vinte anos. Ela é a língua de comunicação da comunidade surda. Se queremos criar uma sociedade inclusiva, não podemos negligenciar os problemas vivenciados por essa parcela da sociedade. A comunidade surda enfrenta esse problema. Dentro da universidade, nosso trabalho é desenvolver pesquisa e tentar trabalhar no tripé de pesquisa, ensino e extensão.”
“Então a ideia de criar um projeto e desenvolver uma solução computacional para ajudar na aquisição da Libras vai nesse sentido também. Acho que o principal combustível para isso é a inclusão, um processo onde toda a sociedade deve estar envolvida e a universidade não pode deixar de dar sua contribuição”, acrescenta.
O nome Loodus, o professor explica, tem tudo a ver com a ferramenta, que é voltada para crianças. “Um aspecto muito importante é o aspecto lúdico, é o brincar, e esse é um dos elementos mais importantes que a gente busca na ferramenta, além da proposta da aquisição da Libras em si. Então esse nome vem daí. Buscamos a mesma sonoridade do termo ludus, em latim, fazendo apenas uma modificação para ficar mais original, dando uma significância para o lúdico.”
Atualmente, existem aplicativos com propostas semelhantes, como o projeto TATU, mas o professor esclarece a diferença entre ele e o Loodus.
“Ambos os projetos rodam no mesmo laboratório, o Toca. Esse laboratório foi criado justamente quando foi aprovado o projeto TATU, no início de 2018, com o apoio do Ministério do Turismo. O projeto TATU tem o objetivo de desenvolver um aplicativo para auxiliar na visitação a locais turísticos em Alagoas de pessoas com deficiência visual e auditiva. Então, existe uma intercessão no público alvo, sendo esse mais amplo. Já o Loodus é uma ferramenta prioritária para crianças surdas. São ambientes com propostas diferentes e públicos alvos ligeiramente diferentes.”
O professor lembra também que a ferramenta em si tem suas limitações e que é uma ajuda no aprendizado. “A aquisição de uma língua é um processo que envolve múltiplas interações, que não se faz unicamente por um aplicativo, mas ele sim contribui com isso, trazendo a língua de sinais e colocando a criança em contato com a língua de forma mais precoce.”
Apesar de ainda não ter sido lançado, o Loodus já recebeu feedbacks positivos.
“Apresentamos o protótipo para especialistas que trabalham com crianças surdas em escolas, além de termos intérpretes de Libras e professores da faculdade de Letras-Libras e alunos do curso na equipe. Eles fazem a ponte com a comunidade surda e trazem feedbacks, que são muito importantes e fazem nosso protótipo evoluir para proporcionar um resultado mais impactante”, relata o professor.
O público-alvo prioritário são as crianças surdas filhas de pais ouvintes, mas o professor ressalta que também é importante os pais participarem e acompanharem para que tenham contato com a língua de sinais.
“Os pais não surdos também precisam aprender para estabelecer uma comunicação com os filhos, e o aplicativo é um veículo para isso”, diz, destacando que existe na ferramenta uma seção onde há uma tradução dos sinais para o português.
A expectativa é de que o aplicativo seja lançado até o começo de 2024, de forma gratuita e para sistemas Android e iOS. “Todos os envolvidos estão com grandes expectativas. Quem trabalha com a comunidade surda de perto e o pessoal que participa do projeto sempre compartilham conosco o apoio que têm das pessoas, principalmente de adultos que tiveram problemas do atraso linguístico”, conta Fábio.
O esperado é que o aplicativo tenha impacto suficiente para que possa ser levado para escolas e até seja usado como ferramenta bilíngue, com surdos e ouvintes podendo usar seus recursos.